
A proposta apresentada pelo governo federal em 8 de junho de 2025 prevê o fim da isenção de IR sobre os rendimentos de LCI e LCA, substituindo-a por uma alíquota fixa de 5%. A ideia, segundo o Ministério da Fazenda, é manter esses ativos ainda “incentivados” frente a outras opções do mercado, como os CDBs, que podem ter tributações de até 17,5%, dependendo do prazo da aplicação.
Apesar disso, o mercado reagiu com cautela à notícia. Isso porque a principal vantagem competitiva das LCIs e LCAs era justamente a isenção fiscal. Mesmo que a alíquota proposta seja considerada baixa, ela muda o cenário para o investidor que comparava diferentes opções de renda fixa com base na rentabilidade líquida.
Outro ponto de atenção é o impacto que essa medida pode ter sobre o custo de captação dos bancos e, por consequência, sobre o crédito para o setor imobiliário e o agronegócio. Com a nova tributação, os emissores desses papéis precisarão oferecer taxas mais atrativas para continuar atraindo investidores. Então isso tende a aumentar o custo do crédito e dificultar o financiamento de projetos nesses setores.
LCI e LCA: o que são e como funcionam essas aplicações?
As Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), são títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras. Elas tem o objetivo de captar recursos que serão direcionados, respectivamente, aos setores imobiliário e do agronegócio. Em outras palavras, ao investir em uma LCI ou LCA, você está emprestando dinheiro para que o banco possa financiar atividades nesses segmentos da economia.

O grande atrativo dessas aplicações sempre foi a isenção de Imposto de Renda sobre os rendimentos para pessoas físicas. Isso significa que todo o lucro gerado pelo investimento ficava livre de tributação, diferentemente do que ocorre com outros produtos de renda fixa, como os CDBs e os fundos DI. Por isso, essas letras se tornaram populares entre investidores conservadores que buscavam segurança, previsibilidade e maior rentabilidade líquida.
Mas como funcionam na prática? Então, ao aplicar em LCI ou LCA, o investidor pode escolher entre diferentes tipos de rentabilidade: prefixada (com taxa definida desde o início), pós-fixada (geralmente atrelada ao CDI) ou atrelada à inflação (como o IPCA). Além disso, esses títulos contam com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que assegura valores de até R$250 mil por CPF por instituição financeira, em caso de quebra da emissora.
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O investidor conservador em alerta
Historicamente, LCI e LCA sempre foram as preferidas do investidor conservador, especialmente aquele que busca renda fixa com segurança e isenção fiscal. Com a mudança nas regras, esse perfil de investidor poderá migrar para outras alternativas com melhor relação risco-retorno, como Tesouro Direto (Tesouro Selic ou IPCA+), CDBs com liquidez diária ou até mesmo Fundos DI com taxas mais competitivas.
Outros investidores iniciantes podem até considerar voltar ou migrar para a poupança, embora não seja a melhor alternativa, mas por não haver imposto de renda, muitos, por falta de conhecimento, podem enxergar essa como uma opção válida.
Mais do que nunca, será essencial comparar as rentabilidades líquidas e avaliar não apenas o retorno bruto, mas também o risco da instituição emissora e o papel do investimento no planejamento financeiro. Afinal, uma mudança de alíquota, ainda que pequena, pode gerar impactos relevantes no longo prazo, especialmente para quem aplica valores mais altos ou mantém os recursos por muitos anos.
A instabilidade nas regras do jogo
Outro ponto importante é a falta de previsibilidade no ambiente regulatório. Então a isenção das LCIs e LCAs já havia sido debatida por governos anteriores, mas nunca chegou a ser de fato alterada. Agora, com a pressão fiscal em alta, o governo decidiu implementar a mudança via Medida Provisória, sinalizando um movimento de curto prazo para cobrir déficits no orçamento.

Esse tipo de estratégia gera insegurança. Tanto investidores quanto empresas precisam de estabilidade para planejar seus investimentos e emissões. Alterar regras de forma abrupta, sem um debate mais amplo, compromete a confiança no sistema financeiro e pode afastar novos investidores do mercado.
Impactos macroeconômicos: crédito mais caro e setores pressionados
A proposta de tributar LCIs e LCAs também gera efeito colateral sobre o crédito, especialmente para os setores estratégicos da economia. Tanto a construção civil quanto o agronegócio dependem diretamente da captação via esses títulos para financiar obras, produção e infraestrutura.
Com a tributação, a tendência é que os custos de emissão aumentem, já que as instituições financeiras precisarão compensar a perda de atratividade para o investidor com taxas maiores. E isso, inevitavelmente, se reflete no consumidor final: moradias mais caras, crédito mais restrito e maior exigência nos critérios de concessão.
A mudança, prevista para vigorar apenas em 2026, ainda pode passar por ajustes. Mas o fato é que ela já sinaliza um ambiente mais desafiador tanto para o mercado quanto para os poupadores.

Como funciona a LCI?
A LCI é um título emitido por bancos com o objetivo de levantar recursos que serão usados no financiamento do setor imobiliário. Portanto ao investir nesse produto, você está, na prática, emprestando dinheiro ao banco, que usará esse capital para conceder crédito imobiliário a outras pessoas ou empresas.
O rendimento da LCI pode ser prefixado (com uma taxa de juros definida no momento da aplicação), pós-fixado (atrelado a indicadores como o CDI) ou híbrido (parte prefixada, parte atrelada à inflação). O investidor recebe o retorno mais os juros no vencimento ou, em alguns casos, em pagamentos periódicos, de acordo com o contrato firmado.
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E a LCA? qual a diferença?
A LCA funciona de forma semelhante à LCI, mas com foco no financiamento do setor do agronegócio. O banco emite o título, o investidor aplica seu dinheiro e os recursos são destinados a produtores rurais, cooperativas e empresas do setor agropecuário.
Assim como as LCIs, as LCAs podem ter rentabilidades prefixadas, pós-fixadas ou híbridas, e também eram isentas de IR até a proposta recente do governo. Além disso, ambas contam com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que cobre até R$250 mil por CPF e por instituição financeira, em caso de falência do banco emissor.
Por que essas letras sempre foram tão atrativas?
Do ponto de vista do investidor pessoa física, LCIs e LCAs sempre foram atrativas por algumas razões:
Isenção de IR: Até a proposta anunciada em junho de 2025, esses títulos não eram tributados pelo Imposto de Renda. Isso tornava o retorno líquido muitas vezes superior ao de CDBs com a mesma rentabilidade bruta.
Baixo risco: Por serem lastreadas em operações de crédito específicas (setor imobiliário e agronegócio) e garantidas pelo FGC, são consideradas investimentos de baixo risco.
Acessibilidade: É possível encontrar LCIs e LCAs com aportes mínimos relativamente baixos, a partir de R$ 1 mil em algumas instituições.
Boa rentabilidade: Dependendo do prazo e do emissor, é possível obter retornos competitivos em relação a outros produtos de renda fixa.
Mudança no prazo mínimo
Outra mudança relevante nos últimos anos foi o prazo mínimo para investimento. Antes, os títulos podiam ser emitidos com vencimento a partir de 90 dias. Em 2023, esse prazo foi estendido para 12 meses e, mais recentemente, foi reduzido novamente para 9 meses.
Essa alteração visa dar mais flexibilidade ao investidor, mas também acompanha estratégias regulatórias do governo para estimular ou conter determinados tipos de aplicações.

Como investir em LCI e LCA?
Você pode investir em LCIs e LCAs por meio de bancos, corretoras de valores ou plataformas digitais de investimento. É importante comparar as taxas, prazos e rentabilidades disponíveis em diferentes instituições, pois esses fatores variam bastante.
Além disso, é essencial verificar se a instituição é protegida pelo FGC e manter o valor investido dentro do limite de cobertura (R$250 mil por CPF por instituição). Para quem deseja diversificar, é possível aplicar em LCIs e LCAs de diferentes bancos, respeitando esse limite individual.
O impacto da nova tributação
Com a proposta do governo de taxar em 5% os rendimentos de LCIs e LCAs, prevista para entrar em vigor em 2026, muitos investidores estão reavaliando suas estratégias. Embora a alíquota ainda seja inferior à de outros produtos de renda fixa (como o CDB, que pode chegar a 17,5% de IR), a mudança reduz a principal vantagem competitiva dessas letras.
Do ponto de vista do mercado, isso pode encarecer o crédito nos setores imobiliário e agropecuário, já que os bancos precisarão oferecer taxas mais atrativas para continuar captando recursos. Isso impacta diretamente o custo de moradia e financiamento de projetos rurais.
LCI e LCA ainda valem a pena?
Mesmo com a nova taxação, LCIs e LCAs ainda podem ser boas opções, especialmente para investidores conservadores que buscam segurança e previsibilidade. A alíquota de 5% é baixa comparada ao IR de outros títulos, e a proteção do FGC continua sendo um diferencial importante.
Contudo, vale a pena ficar atento às novas ofertas, comparar rentabilidades e considerar outras alternativas de renda fixa, como CDBs, Tesouro Direto e debêntures, principalmente em um cenário de mudanças fiscais e regulatórias.
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O que são Debêntures? Entenda esse importante instrumento de investimento em renda fixa
As debêntures são títulos de dívida emitidos por empresas com o objetivo de captar recursos para financiar suas atividades, seja para expandir operações, investir em infraestrutura, ou simplesmente para reforçar o caixa.
Ao comprar uma debênture, o investidor está, na prática, emprestando dinheiro à empresa em troca de uma remuneração futura, que pode incluir juros, correção pela inflação e até prêmios adicionais.
Diferentemente de outros investimentos populares, como CDBs, LCIs e LCAs, que os bancos emitem, as companhias privadas emitem as debêntures, e essas não contam com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Isso significa que o investidor assume mais risco, mas também pode receber uma rentabilidade superior à média de outros títulos de renda fixa.

Como funcionam as debêntures?
Quando uma empresa decide emitir debêntures, ela basicamente está criando um contrato com o investidor, no qual promete pagar o valor investido acrescido de uma taxa de juros dentro de um determinado prazo. Esse título pode ter diferentes formas de remuneração:
Prefixada: a taxa de juros é conhecida desde o início (ex: 11% ao ano);
Pós-fixada: os rendimentos acompanham um índice, geralmente o CDI;
Híbrida: combina uma parte prefixada com uma parte atrelada à inflação (ex: IPCA + 6%).
O prazo de vencimento varia bastante, podendo ir de dois a dez anos ou mais. Durante esse período, a empresa pode optar por fazer pagamentos periódicos de juros (conhecidos como “cupons”) ou pagar tudo apenas no vencimento.
Algumas debêntures também permitem liquidez no mercado secundário, ou seja, o investidor pode vendê-las antes do vencimento. Embora isso dependa da demanda de outros compradores e possa implicar em perdas ou ganhos no valor de mercado.
Existem também as debêntures incentivadas, que são isentas de imposto de renda para pessoas físicas. Empresas que atuam em setores estratégicos para o país, como infraestrutura e logística, emitem essas debêntures e, por isso, recebem esse benefício fiscal. Justamente por essa isenção, essas debêntures se tornaram uma alternativa bastante atrativa após o anúncio da tributação sobre LCIs e LCAs.
Debêntures são para todo tipo de investidor?
Não necessariamente. Então, por não contarem com a proteção do FGC, essas aplicações exigem mais atenção quanto ao risco de crédito da empresa emissora. Portanto, é importante que o investidor avalie a saúde financeira da companhia, os indicadores de endividamento e a classificação de risco (rating) dada por agências especializadas.
Além disso, como geralmente são investimentos com prazos mais longos, é fundamental ter clareza sobre o objetivo da aplicação. Investidores que podem precisar do dinheiro no curto prazo devem buscar alternativas com maior liquidez.
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Comparando opções de renda fixa no novo cenário
Com a mudança na tributação das LCIs e LCAs, o investidor conservador terá um novo cenário à frente. O que antes era simples, escolher o título isento de IR com boa rentabilidade, agora exigirá mais análise.
LCIs e LCAs continuam sendo seguras e previsíveis, mas perderam a exclusividade da vantagem tributária. CDBs, Tesouro Direto e debêntures incentivadas ganham espaço na comparação, principalmente quando avaliamos o retorno líquido ao longo do tempo.

O Tesouro Direto, por exemplo, tem a vantagem de alta liquidez e garantia do Tesouro Nacional, sendo ideal para quem busca previsibilidade. Já os CDBs, dependendo do banco emissor, podem oferecer rentabilidades mais atrativas, especialmente em instituições menores, embora exijam mais atenção ao risco da instituição.
Diversificação continua sendo a chave
O principal ensinamento desse movimento do governo é que as regras do jogo podem mudar, e por isso o investidor precisa estar atento e diversificado. Apostar todo o capital em apenas um tipo de título, mesmo que ele pareça vantajoso hoje, pode ser arriscado no futuro.
Manter uma carteira equilibrada, com diferentes produtos de renda fixa (e até de renda variável, se for o caso), ajuda a suavizar os impactos de mudanças regulatórias, fiscais ou econômicas. Avaliar o perfil de risco, os objetivos financeiros e o horizonte de investimento é fundamental antes de escolher onde aplicar.
O investidor precisa evoluir junto com o mercado
A proposta do governo de tributar os rendimentos de LCI e LCA é um marco importante no mercado financeiro brasileiro. Ela evidencia a necessidade de atualização constante por parte do investidor, que não pode mais se apoiar exclusivamente em benefícios fiscais para decidir onde colocar seu dinheiro.
Mais do que nunca, entender o funcionamento dos produtos, calcular rentabilidades líquidas, considerar os riscos envolvidos e diversificar a carteira são atitudes obrigatórias para proteger o patrimônio e buscar bons retornos.
Mesmo com a nova tributação, LCIs e LCAs ainda têm espaço nas estratégias de investidores conservadores, mas agora dividem o protagonismo com outros produtos tão ou mais interessantes. O momento é de atenção, reavaliação de estratégias e, acima de tudo, educação financeira.
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2 Comentários
Muito bom seu artigo, parabéns. Eu tenho aplicações em LCI, mas com essas mudanças vou mudar de aplicação.
Olá, Carla! 😊
Muito obrigado pelo seu comentário e por acompanhar o conteúdo do blog. Fico feliz que o artigo tenha sido útil para você!
As mudanças recentes realmente impactam algumas estratégias com LCI, e é ótimo ver que você está atenta às movimentações do mercado. Se quiser compartilhar mais sobre seu novo plano de investimento ou tiver dúvidas sobre outras alternativas, estou à disposição para ajudar.
Abraços e bons investimentos! 😉🙏
— Equipe CLT Investidor